DELINQÜÊNCIA JUVENIL

BREVE ANÁLISE DOS ASPECTOS ENVOLVIDOS NA DELINQÜÊNCIA JUVENIL
Vários estudos comprovam a complexidade dos aspectos envolvidos na formação de uma personalidade delinqüente. Porém, nenhum deles pode dizer com segurança e exatidão quais são os responsáveis por este comportamento. Qualquer estudo que destaque alguns aspectos em detrimento de outros como possíveis causadores da delinqüência estará, certamente, tendo uma visão reduzida do problema, pois o principal ator deste cenário é o próprio ser humano cuja formação se dá pela conjunção dos fatores psicológico, biológico, social/familiar e econômico.Sabe-se hoje que a delinqüência não é uma condição proporcional à pobreza, ou seja: quanto mais pobre, maiores as chances de o indivíduo delinqüir. Diferentemente, o fator escolaridade demonstra ter extrema importância no ajuste social, pois quanto maior for o acesso à informação, maior o nível de perspectiva pessoal e social.No entanto, ao analisarmos o problema do ponto de vista da dinâmica psicológica, observaremos que o sentimento atual de desamparo, típico de nossa cultura, aliado à descrença nos valores morais, acarretam no ser humano uma busca incessante pelo prazer pessoal e pelo individualismo, ambos efêmeros, tornando-o cada vez mais distante dos ideais sociais coletivos, importantes na formação da identidade de cada indivíduo.Em uma sociedade capitalista, os ideais de consumo estão acima dos ideais intrapessoais, gerando um padrão de valores éticos altamente questionáveis. A felicidade almejada está associada ao “ter” e não ao “ser”, restando ao jovem a conquista da felicidade a qualquer preço.Outro elemento de grande relevância refere-se ao declínio da função parental (papel do pai e da mãe), caracterizado pela dissolução familiar e pela conseqüente falta de limites. O espaço aí aberto é, então, ocupado pela falta de referências, falta da ordem e de padrões que possibilitem ao jovem uma identificação com um modelo, sendo, então, lançado a uma liberdade generalizada ou liberdade para tudo. Em nome de uma proteção incondicional dos pais, os adolescentes não sofrem qualquer tipo de limitação ou censura, cabendo-lhes o peso futuro da cobrança social e um enorme sofrimento para adaptação às normas exteriores. Tudo isto , evidentemente, gera uma pressão psicológica desproporcional à estrutura de personalidade desenvolvida.A sociedade parece estar acordando, paulatinamente, para esta conseqüência, já que começa a por em questão os moldes educacionais vigentes. Para isso, foi necessário muito sofrimento e uma exposição quase sórdida do mesmo pelos meios de comunicação. Felizmente ou infelizmente, este mesmo sofrimento é aquele que nos faz crescer como participantes de um mundo que ainda vale a pena, principalmente se tivermos em mente a importância da participação de cada um de nós no processo civilizatório.

DELINQÜÊNCIA JUVENIL E LEITURA:
Uma dificuldade de leitura pode levar uma criança à delinqüência juvenil? Cremos que sim. Há uma relação muito estreita entre leitura e pensamento, entre leitura e atitude e mais estreita ainda é a relação entre rechaço e maus leitores, de que modo que as investigações recentes, na psicopedagogia, apontam para um grau de contiguidade entre leitura e delinqüência juvenil. O comportamento do delinqüente, no meio escolar, em geral está associado com alguma dificuldade de aprendizagem relacionada linguagem. As crianças com dificuldade parcial de ler bem, quase sempre, são alunos isolados, mas alunos que procuram superar suas limitações lingüísticas com comportamentos mais agressivos, rebeldes e violentos. As notas baixas nas disciplinas escolas refletem muito as limitações cognitivas e lingüísticas dos maus leitores, mas a destreza no esporte, na arte, muitas vezes podem, doutra sorte, revelar um sentimento de rebeldia que pode perdurar na fase adulta. Não há aqui, intenção de estabelecer dicotomia ou maniqueísmo, todavia os maus leitores são potencialmente os alunos que mais oferecerão problemas de indisciplina ao setor psicopedagógico da escola. Durante dois anos observamos e constatamos que as dificuldades de leitura e a delinqüência juvenil são tipos de problemas que caminham juntos e, portanto, exigem uma intervenção por parte dos agentes e autoridades educacionais. Uma política de leitura não apenas compensaria o déficit cultural dos alunos como também iria engajá-los no discurso da sociedade da informação. Enquanto isso, sobra a difícil tarefa de domesticação de atitudes dos alunos por parte dos abnegados professores, em particular, os da rede pública de ensino, que se deparam hoje não apenas com dificuldades domésticas, materiais e pedagógicas nas salas de aula, mas têm , também, como tarefa árdua o enfrentamento da questão social a que a escola pública está inserta. Refiro-me à delinqüência juvenil revelada na gangs e nas brincadeiras violentas e agressivas no meio escolar. Muitos alunos cometem atos anti-sociais não porque são pobres ou por passarem privação cultural, e sim, porque, estando nas escolas (sejam públicas ou não), não têm rendimento escolar e padecem com transtornos de linguagem como as dificuldades de ler e escrever bem e, conseqüentemente, têm baixo rendimento na avaliação escolar. Quanto mais a criança é inculta, mais propensa à violência por motivos frívolos e banais. Quanto mais a criança é arisca, mais tímida para os embates da vida. Na minha rápida passagem pela rede estadual de ensino, tomei algumas providências iniciais para o trabalho com os alunos agressivos e com problemas de conduta: a primeira, conhecer seus pais e conhecendo sua família ter uma "etiologia" mais clara e definida da forma de intervenção pedagógica a tomar com relação ao educando; a segunda providência foi a de levar meu aluno à consciência de suas limitações cognitivas, de natureza secundária, e mostrar-lhes, por exemplo, que, através de uma boa orientação ou reeducação da leitura, poderiam mudar as próprias atitudes, ideais aspirações pessoais e, finalmente, promover através da leitura aquisição de conhecimentos e a integração social. Quanto mais a criança compreende ideologicamente o mundo mais se envolve com uma práxis da concidadania e se inquieta com as questões de ordem social. Os alunos com dificuldades de leitura e, a cada tentativa, frustrados, são levados a gazear aulas e a freqüentar companhias indesejáveis. Um aluno que fracassa na leitura, fracassa também na hora de ler um problema na matemática ou na hora de fazer um exercício de gramática. Um aluno que fracassa na leitura não encontra sentido algum em ler um Machado de Assis ou ler os versos de um Camões que estão parafraseados na sua canção predileta de Legião Urbana. Um aluno que constantemente fracassa é empurrado de forma perversa para a delinqüência. Uma última palavra: a privação da leitura interfere no desenvolvimento da personalidade dos alunos. Um aluno com deficiência de leitura é triste e deprimido, agressivo e angustiado, potencialmente um delinqüente. Numa sociedade de informação, ler ou escrever bem é condição de superação da desigualdade social: se alguns duvidam da tese, eis a rede mundial de computadores revelando um mundo de novas ocupações fundadas na fluência verbal e na comunicação eficaz.